Imaginário da Escapadinha 2010

Na Banda da “Música”, Ti Filipe carregava um enorme bombo, com o qual marcava o compasso de cada melodia, mas no dia a dia tocava uma pequena flauta de amola-tesouras, pois era esta a sua profissão, já em vias de extinção.
-Lá vem chuva! – repetia o povo na rua, quando o som da flauta se ouvia. Mas o que é certo é que no dia seguinte… chovia!
Os mais novos aproximavam-se para o ouvir tocar a pequena flauta, mas também, porque sabiam que o Ti Filipe levava rebuçados nas algibeiras e canas na saqueta da sua estranha “carreta”, que lhes davam para que construíssem outros instrumentos musicais.
Aos Domingos, nunca trabalhava, mas levava os seus cinco periquitos para o Largo da Igreja e as crianças ficavam de novo maravilhadas, com todas as suas traquinadas. Enquanto tocava, os pequenos periquitos dançavam, rodopiavam e até cambalhotas davam.

Um dia, ouvi contar, mas há quem teime em não acreditar, que até o Nemo, o peixe palhaço, aqui foi visto a cirandar.
Infelizmente, toda esta magia terminou. Não compraram um novo bombo ao Ti Filipe e, zangado zarpou e com ele, toda a sua magia levou…
Perdeu-se tudo: periquitos, canas, rebuçados e até os peixes desconsolados acabaram por se afastar, para o alto mar.
No entanto, ainda hoje este músico é recordado e quando numa qualquer arruada, alguém toca uma nota desafinada, a desculpa está encontrada e é sempre igual:
-Foi o Ti Filipe que a levou no bornal!