segunda-feira

Imaginário da Escapadinha 2010


A Sociedade de Instrução Musical Rossiense, “a Música”, como é conhecida desde a sua fundação, em 1915 é a colectividade mais antiga de Rossio ao Sul do Tejo. Ao longo dos seus 95 anos foram muitos os músicos, que por lá passaram e que enriqueceram a sua história, como foi o caso do “Ti Filipe”.
Na Banda da “Música”, Ti Filipe carregava um enorme bombo, com o qual marcava o compasso de cada melodia, mas no dia a dia tocava uma pequena flauta de amola-tesouras, pois era esta a sua profissão, já em vias de extinção.
-Lá vem chuva! – repetia o povo na rua, quando o som da flauta se ouvia. Mas o que é certo é que no dia seguinte… chovia!
Os mais novos aproximavam-se para o ouvir tocar a pequena flauta, mas também, porque sabiam que o Ti Filipe levava rebuçados nas algibeiras e canas na saqueta da sua estranha “carreta”, que lhes davam para que construíssem outros instrumentos musicais.
Aos Domingos, nunca trabalhava, mas levava os seus cinco periquitos para o Largo da Igreja e as crianças ficavam de novo maravilhadas, com todas as suas traquinadas. Enquanto tocava, os pequenos periquitos dançavam, rodopiavam e até cambalhotas davam. Havia quem acreditasse que o Ti Filipe tinha poderes mágicos. Diziam até que, quando se abeirava do rio, logo ecoava uma estranha melodia, que até do mar, os peixes trazia.
Um dia, ouvi contar, mas há quem teime em não acreditar, que até o Nemo, o peixe palhaço, aqui foi visto a cirandar.
Infelizmente, toda esta magia terminou. Não compraram um novo bombo ao Ti Filipe e, zangado zarpou e com ele, toda a sua magia levou…
Perdeu-se tudo: periquitos, canas, rebuçados e até os peixes desconsolados acabaram por se afastar, para o alto mar.
No entanto, ainda hoje este músico é recordado e quando numa qualquer arruada, alguém toca uma nota desafinada, a desculpa está encontrada e é sempre igual:
-Foi o Ti Filipe que a levou no bornal!